Entrevista - Alfredinho ( Bip Bip)

Seguindo a dica do professor José Eudes, fui até Copacabana atrás do lendário bar Bip Bip para entrevistar o famoso Alfredinho, dono do boteco e mau humorado de carteirinha. Porém, esse rótulo de mau humorado muitas vezes é um equívoco, pois o Alfredinho que me recebeu abusou da simpatia e humildade. Calorosamente acomodado na mesa dos velhinhos, tive a oportunidade de fazer algumas perguntas a essa figura da noite carioca.

Lucas
- O Bip Bip é um bar que tem mais de 40 anos. Como que ele se manteve até os dias de hoje, que fator foi mais importante para o bar continuar tão conhecido e freqüentado?

Alfredinho
– Eu comprei o bar em 1984. Antes disso ele era um estabelecimento comercial comum, vendia batidas, doses de bebida, esse tipo de coisa. Quando eu comprei, trouxe a música pra cá. Porque eu sou um apaixonado por música, quem não gosta de música é maluco! Além disso, o papo é muito importante também. O pessoal vem pra cá pra discutir música, literatura, política, futebol. Isso é, quando tinha futebol, né. Porque hoje em dia não tem mais futebol, não. E pra discutir política era só de esquerda. Porque tudo que vem da direita não presta.

Lucas
- E o que realmente diferencia o bar dos outros e atrai fiéis clientes?

Alfredinho
– É isso, o bom papo, a boa amizade...e a boa música, principalmente. Aqui só toca fera da música. Outro dia mesmo um amigo trouxe um sanfoneiro do Nordeste pra cá... o cara tocava pra cacete! Mas o mais importante mesmo é a amizade. O Bip é um bar pequeno. Escuta essa: outro dia eu resolvi fazer uma contabilidade de quantos casamentos saíram daqui. Contei dezenove! Dezenove casamentos saíram aqui do bar! (risos)

Lucas
– Quando o senhor comprou o bar, ele já tinha esse nome? Possui algum significado especial?

Alfredinho
– É, quando eu comprei já era Bip Bip, mas nunca soube por que. Muito tempo depois que eu fui descobrir. Uma vez conversei com uma senhora, e ela me disse que era irmã de um dos fundadores. Aí ela me contou que o nome é porque o bar foi fundado em 1968, ano complicado, inclusive. Enfim, ela me contou que o nome do bar é uma homenagem ao lançamento do satélite russo Sputinik.

Lucas
- Apesar de tradicional, o bar é freqüentado por muitos jovens. Por que você acha que isso acontece?

Alfredinho
– Musica boa, basicamente. Aqui é um dos poucos lugares do rio que tem música boa. Eu gosto muito de vocês, dos jovens. E graças a Deus, vocês estão gostando de samba. Os jovens que vem aqui tem um papo muito bom também, tem um bom QI, sabe.

Lucas
– O Bip Bip já tem três livros né? Da onde surgiram esses projetos?

Alfredinho
– O primeiro livro foi um amigo aqui do bar mesmo que fez. O segundo já foi mais pensado, preparado. O Pimentel, Marcel Vieira e o Chiquinho que trabalharam nele, contando várias histórias daqui. O terceiro foi agora pra comemorar os 40 anos do bar. Eu queria reunir 40 freqüentadores do bar pra escrever cada um um conto sobre o Bip . Só que acabou que 250 queriam escrever! Todo mundo quer escrever sobre o Bip Bip. Acabou que fechamos em 160, e foi isso aí.

Lucas
- Se as histórias continuarem, podemos contar com mais livros?

Alfredinho
– (risos) Com certeza! E como a gente já tá ficando velho demais, quem vai fazer e contar essas histórias são vocês, os jovens!

Com essa frase esperançosa, a entrevista chegou ao fim. Deixei o Bip Bip ouvindo pelas costas os senhores começando a discutir a obra de Chico Buarque e com a incrível sensação de que há lugares no Rio que valem a pena a conferida, e de que não há nada melhor do que bater um papo com velhinhos que sabem das coisas.